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As cobras da Lagoa de Extremoz

A lagoa de Extremoz – lagoa de água doce – localizada no município do mesmo nome, no estado do Rio Grande do Norte, ocupa uma área de 4.2 quilômetros quadrados, é responsável hoje, por 70% do abastecimento de água da região Norte da cidade de Natal.
A lagoa, que já se chamou lagoa Tijiru, teve um papel muito importante no processo de colonização do estado. Em torno dela, no local chamado Guagiru, habitavam os índios tupis e tapuias. Em 1607, os jesuítas da Companhia de Jesus chegam à localidade e recebem do Capitão-Mor Jerônimo de Albuquerque, cessão de terras para o trabalho de catequese com os índios, estabelecendo a missão de São Miguel do Guajiru.
Com a saída dos jesuítas, por volta de 1760 a aldeia passou a se chamar Vila Nova de Estremoz – a primeira Vila do Rio Grande do Norte.

Da época das missões, os nativos de Extremoz guardam muitas histórias e lendas. Entre outras importantes, como a Lenda do Tesouro, segundo a qual os próprios moradores destruíram a antiga Igreja de São Miguel do Guagiru em busca de um tesouro enterrado, a lenda das Cobras da Lagoa se constitui a mais viva tradição local, e continua, portanto, fazendo parte do imaginário coletivo do povo dessa cidade.

“No tempo dos frades, a lagoa era povoada por duas cobras enormes. Uma, muito feroz e atrevida, devorava os banhistas e quem atravessasse a lagoa devia pedir proteção a São Miguel para não ser agarrado pela cobra. As crianças eram as vítimas preferidas pela cobra maligna. A outra cobra era mansa. Limitava-se a assobiar tristemente nas tardes em que seu companheiro nadava perseguindo os incautos.
Reza a lenda que essas cobras eram duas crianças pagãs que os índios jogaram dentro da lagoa, a conselho dos “pajés”para que os padres não as batizassem. Viraram cobras e estavam cumprindo cumprindo penitência…

Num domingo, depois da missa, um padre missionário, veio até a margem da lagoa e, em nome de Deus, intimou as cobras a comparecer na igreja, naquela tarde, às horas da benção do Santíssimo Sacramento.
A cobra fêmea, tardinha, saiu da lagoa, arrastou-se, repelente e viscosa, para a vila, espavorindo quem a avistava. Atravessou a praça e enrolou todo o edifício da igreja com seu imenso corpo reluzente, juntando a cabeça e a cauda na soleira da porta principal.Do altar-mor, paramentado, o vigário admoestou-a à santa obediência e, erguendo a mão, abençoou-a. A cobra desenroscou-se, voltou, coleante e terrível, para as águas da lagoa.Nunca mais saiu nem fez mal. Vez por outra veem seu dorso negro, sobrenadando.

O companheiro, desobediente, não veio à igreja. O padre amaldiçoou-o da porta do templo, em voz alta e em latim.
A cobra excomungada nadou para o outro lado da lagoa, esgueirou-se pelo mato e bufando como uma locomotiva, derrubando arbustos com o açoite furioso da cauda poderosa. No sítio Jardim, justamente no lugar “Embaíba”. estirou-se e morreu. Nessa local, nunca mais nasceu capim e a estreita faixa de areia no meio da vegetação reproduz fielmente o contorno da serpente fantástica”.
(Câmara Cascudo – As cobras da lagoa de Estremoz – RN)